Saturday, March 19, 2005

mortal transtorno

ontem perdi mais uma parte da memória e nunca mais conseguirei forma de a recuperar. será sempre menos uma parte do mundo que restará lembrar quando aos 66, sentado em frente de um qualquer lago negro me lembrar de todos os momentos que agora não relembro. hoje sou alguem que alguem relembra, nada mais e a única coisa que realmente importa é lembrar que ainda podemos um dia lembrar os melhores momentos que existem ou ainda não. e agora há que festejar mais este momento.

Thursday, March 17, 2005

O raio de sol parecia estar ali, constante e sufocante, cada vez mais quente, iluminando a noite, e a sua pele brilhava mais intensamente que qualquer outra vez, à sua frente a sua própria imagem, o vestido rasgado e o rímel desvanecido e aquelas manchas de batom encarnado no pescoço iluminado por aquela luz intensa…então sentiu calor, e um calor intenso por todo o corpo, semelhante a veludo cobrindo tudo o que ela era e um dos seus lindos olhos negros abriu lentamente e pensou numa única coisa, morrer ali na perfeição e banalidade da sua cama, algures no nada suando incansavelmente. Odiou aquele momento porque o desejo a possui e ela apenas existe, não tem o poder de criar. Amou compulsivamente o seu corpo num banho de espuma, suavemente passou a esponja pelos seios, repentinamente sentiu prazer, encostou o cabelo na banheira e murmurou: sou a fonte onde o prazer sacia o desejo. Escolheu aqueles “jeans” que, de uma forma completa completavam a beleza que a possuía nua. O elevador demorava a chegar. Ela pensava em ir passar o dia fora, apaixonar-se por aquele dia perfeito, e ir comer aquele pau quando ele chegasse a casa, cansado de uma viagem de cinco horas, a surpresa seria ideal. Dentro do elevador encontrou o velho do quinto andar, sufocante olhar que insistia no seu corpo e aquela simpatia fora de prazo, ofegante respiração em palavras estragadas. Mórbido. Saiu, abriu a porta do prédio e apressou-se a caminhar para a passadeira. Um incómodo ruído de máquinas em obra ocupava a normalidade. Cruzou a passadeira, sentiu o telefone no bolso a chamar. Mas ela nunca atendeu.

to her

Escrevo sobre um mar de sangue
Mas dialogo acerca de uma única gota
E a brisa que me destrói
São memórias geladas do calor ofegante das tuas palavras

Vou acreditar eternamente que não existes
E cair finalmente, pusilânime, em vaidade
Rasgar as tuas últimas linhas
E, brevemente, sangrar

E continuo a ser um abrigo, o teu anjo
Quando conseguires voar levar-te-ei para longe
Cegar-te em ácidos, cegar-te com ácidos
E arder de novo dentro de ti, para que te vejas no meu olhar

Saturday, March 12, 2005

alvex badalhoc

"portanto a minha cliente declara-se isenta da referida contribuição fiscal, pois esta não é compatível com a lei onde não consta a referência à função por ela ocupada"

é díficil comentar algo que ninguem aqui na jamaica fala, é tão natural como o rum. não é que seja um país fechado a ideias novas, mas o pessoal é todo maluco aqui, e não é do rum. talvez falte um pouco de coragem para se aceitar naturalmente qualquer turista numa comunidade semi-indígena, mas onde as coisas são tão naturais que facilmente são esquecidas, tanto para a gente aqui como os outros que adoram vir aqui por mais apenas que o fascinante rum.
é aqui que damos conta como é necessário nos respeitarmos sem qualquer preconceito ou dúvida. aqui luta-se contra "os mortos que andam", isto degundo a tradição voodoo na ilha. aqueles que se erguem vindos debaixo de terra e nos perseguem por uma decisão errada, talvez tomada há muito tempo, talvez não. é por isso que a única lei conhecida num paraíso é: a partir daqui a lei não o é porque não existe mais outra lei perante esta. legalizar a prostituição é apenas uma ideia.

hasta la muerte!

kingston

boas!!
escreve-se hoje o que amanhã será mentira
escreve-se para corrigir o erro
escreve-se no deambulo do passado
e assim se cria ou destrói
escreve-se para quem nunca morreu
escreve-se pela beleza do teu retrato
escreve-se para ninguem
para lá do infinito da perfeição
escreve-se como se ama
ou como se destrói e reergue
escreve-se como a dor dilacera
como alguem cede perante
posso morrer a seguir, posso fumar a seguir
posso gritar a seguir, posso foder a seguir
posso respirar
posso afogar a seguir, posso negar-me a seguir
posso alieanar, posso escrever-te
ou descrever-te
não posso negar-te
És todo o meu negro sonho